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segunda-feira, 31 de março de 2014

Ser só mãe: existe isso?

Um dos textos mais lidos aqui do blog é o "Escolinha X Babá", escrito no ano de 2011. Nele eu contava um pouco das minhas experiências com uma creche, onde minha filha ficou dos 6 aos 15 meses, e com uma babá, dos 18 meses até nossa saída de SVP-RS, quando ela já estava com quase 4 anos.

A quantidade de pessoas que chega a esse texto através da busca pelo termo "escola X babá", "creche X babá" demonstra a realidade de boa parcela das mulheres brasileiras: o retorno ao trabalho após o término da licença maternidade.



Eu vivi essa realidade por duas vezes e ainda me lembro como doíam os momentos de separação dos meus bebês. Eu ainda me lembro daquele sentimento de inconformidade com a necessidade de ter que me separar dos meus filhos para trabalhar.

Eu venho de uma família de mulheres que trabalham. Eu nunca fui educada para casar e ter filhos, mas sim para estudar, trabalhar, ser independente. Casamento e filhos era algo desejado, mas nunca foram um objetivo. Aconteceria, se fosse para ser assim.

Já estudo e trabalho não. Eram um objetivo. Terminar a escola, entrar para a universidade, formar-se, trabalhar. Não depender do marido. Nunca depender.

E então chega a maternidade. A fusão que acontece com o bebê que acaba de chegar é algo que nos tira o pé do chão. Nos arranca de nós mesmas. Muitas dizem até que perdem sua identidade.

Para mim também aconteceu essa perda de identidade. O meu objetivo era garantir que aquele pequeno ser teria tudo o que precisasse, quando precisasse. Garantir o bem estar da minha filha (e depois do meu filho) era tudo que o meu ser conseguia fazer.

Mas...existe um final para a licença maternidade, muitas nem mesmo possuem esse período. E muitas de nós mulheres abandonamos nossos empregos nesse momento. Outras tantas o abandonam já na gestação. Outras, como eu, não querem deixar seu trabalho, mas também não querem deixar seus filhos - surge aí um dilema que acompanha boa parte das mães que trabalham fora de casa. E algumas estão onde desejam estar. Sentem-se ajustadas.

O mundo surge com a solução para as mães que, como eu, não querem deixar seus filhos, mas querem voltar ao trabalho: terceirizar. Seja numa creche, seja com uma babá, a ordem que recebemos é deixar nossos filhos com terceiros. A regra é clara: se você quer trabalhar, terceirize. Se não quer terceirizar, abandone seu trabalho. Afinal, o que mais pode ser feito, não é mesmo? Você não tem o direito de trabalhar E maternar nos dias de hoje.

Se antigamente não se ouvia falar em creches e as poucas que existiam eram muito mal vistas, atualmente as creches ou escolinhas são altamente recomendáveis como solução para nossa ausência. Das mais amplas e modernas às mais alternativas, ou que tentam imitar o ambiente familiar, passando por pedagogias e filosofias diferentes, o que todas querem é que deixemos nossos filhos ali e saiamos tranquilas para ganhar o mundo cão que nos aguarda. Afinal, precisamos pagar nossas contas, precisamos garantir, mais uma vez, que nossos filhos terão tudo que quiserem, tudo que precisarem. Precisamos garantir nossa independência. Será mesmo?

E se você vai deixar seu filho num ambiente hostil com pessoas estranhas, para que eles passem de 8 a 12 horas por dia longe do ambiente familiar e dos pais, lembre-se: sinta-se segura! Afinal, se o seu filho sofre na escola, não é porque é totalmente antinatural ele estar longe da família e do ambiente familiar, é porque a sua insegurança de mãe passa para ele! Mas não se preocupe! Ele chora só enquanto você está lá, depois que você sai ele chora mais uns cinco minutos e para! Fique tranquila!

Quem sabe você tenha escolhido deixar seu filho com uma babá. Eu já deixei. A maior parte do tempo, foi uma ótima experiência, muito melhor que a creche. Mas ainda assim há contras. Se a babá possibilita um cuidado mais afetuoso, presencial, constante e no ambiente familiar, ela também pode ser um problema, simplesmente porque não é o pai ou a mãe. A relação que se estabelece com uma babá e uma criança geralmente não visa ao crescimento e ao aprendizado dessa criança, mas sim, apenas ao carinho e à aceitação. Pode ser uma boa ideia nos primeiros meses, ou nos primeiros 2 anos. Mas e depois?

 E sempre haverá o risco de não dar certo. A última babá que eu tive chegou e foi embora em 30 dias. A partir dali eu jurei que nunca mais iria deixar para terceiros aquilo que me era mais precioso. Nem que fosse necessário recomeçar, ou revolucionar meu micro mundo.

Mas, antes disso, cansada dessa discussão e dessa falsa competição que o mundo jura que existe entre mulheres que trabalham em casa e mulheres que trabalham fora de casa (eu sei, essa rixa pode ser bem real muitas vezes, mas não caia nessa armadilha de ver outra mulher como sua concorrente, como sua rival), eu escrevi outro texto, ressaltando que nós mulheres não deveríamos ter que escolher entre nossos sustento e nossa maternidade. Que deveríamos poder exercer com qualidade as duas coisas, as duas facetas de nossa existência. Afinal, ninguém quer uma vida pela metade - ou nem isso - todos nós desejamos uma vida integral. Ninguém é só (e esse só, notem que sempre vem de forma pejorativa) mãe. Ninguém é só profissional. Ou esposa. Ou só qualquer coisa. Somos seres multifacetados. E devemos querer viver bem todas as nossas facetas. Não deveríamos nos contentar em viver menos. Afinal nossa vida deve valer alguma coisa para além do nosso cartão de crédito e do nosso financiamento da casa própria. Sim ou não?



E hoje eu estou numa fase nova. Estou numa fase que muitos creem ser a de só mãe. Só que eu nunca serei só mãe, apenas mãe. Serei mãe. Sempre, desde 2009. Mas eu quero ser outras tantas coisas. Não me contento em ser menos. Quero ser tudo que eu tenho o direito de ser.

Olhe para seus filhos e filhas: vocês não acham que eles podem ser tudo o que quiserem ser?

Eu estou trilhando. E, como tenho aprendido em minhas aulas sobre empreendedorismo -  área que sempre amei, desde a época em que trabalhei numa empresa júnior de nutrição - o sucesso não é o final da jornada. O sucesso é a jornada! O caminho, a trilha, o prosseguir. Por isso, ninguém será pleno sendo só isso ou só aquilo. Não há caminho percorrido, mas sim caminho a percorrer e aquele que já ficou para trás.

Escola, babá, creche, família. Onde deixar nossos filhos? Não há resposta certa aqui, há aquela resposta que vai te satisfazer por muito ou pouco tempo. Não se iluda: os filhos precisam dos pais. Tenha isso em mente ao fazer escolhas. Nenhum caminho "está escrito". Somos todos protagonistas de nossas vidas.

E, no lugar de pensar que existe apenas uma solução, pense que somos nós quem exigimos ou não soluções para nossos dilemas. Se não o fizermos, a vida seguirá, e trilharemos caminhos que não são nossos.

3 comentários:

  1. Olha, NIne, você sabe que eu sinto muito em estar longe da minha filha e não há nada que me deixe mais feliz (até haveria, mas hoje não há) do que ver uma amiga-mãe alcançando o sonhado plano de viver "só" sendo mãe. Quando soube que vc conseguiu tirar licença e viver da maternidade, fiquei tãããão feliz.... assim como tenho certeza que ficarão outras amigas minhas no dia que o meu dia chegar. No dia que ele chegar. Ele vai chegar.

    Eu sempre sinto esta angústia de deixar a filha na escola e vê-la somente à noite e, especialmetne às segundas, eu sofro mais. Um dia eu poderei ser SÓ mãe, só educadora, só acompanhante, só amiga delas. Fé. E esperança.

    Beijos grandes!

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  2. Oi, Dani! Sim, eu bem sei da sua angústia e do seu desejo de estar SÓ com suas filhas. Tenho certeza que você vai conseguir, que você vai trilhar esse caminho. E eu te garanto que essa é uma escolha difícil, mas que ela traz inúmeras felicidades. Não há arrependimentos em escolhas bem pensadas e pensadas em benefício de quem se ama. Estou te esperando do lado de cá! :) Beijos!

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  3. Nine... Olha eu aqui outra vez me deliciando com esse texto tudo de bom. Daqueles que nos empolga e nos faz pensar e repensar mil vezes.
    Minha vida atualmente é muitoooo diferente de quando a Sô nasceu. Há poucos dias escrevi la no meu blog (mas não publiquei e ele continua desativado ainda) sobre como me sinto feliz em estar presente na vida de minha filha, e não depender que "outros" cuidem diariamente. Muitas vezes me vi diante de coisas que eu tive q abaixar a cabeça e engolir sapo simplesmente pelo fato de minha dependência de alguém. Hoje a coisa mudou um pouco e esse pouco já me deixa muito feliz. Hoje a Sophia fica comigo e com o pai, porque é da gente que ela precisa!
    Sei como muitas mães gostariam de ser e estar mais presentes na vida dos filhos, e fico feliz de ver que algumas tem conseguido esse objetivo e outras continuam se planejando e sonhando por esse momento. A minha vida está ainda longe do que eu gostaria que fosse, mas eu continuo trilhando e correndo atrás, pelo bem estar de quem mais amo no mundo.
    Assim como vc, eu não consigo pensar em ser "só" mãe, mas quero sim ser a melhor que eu puder ser pra minha filha. E eu repito: Eu quero ser tudo que eu tenho direito de ser!

    Foi muito inspirador!!

    beijosss



    beijoss

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