Páginas

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Obrigada! Beijos e até a volta!

Muito obrigada pelo carinho! Recebi muitas e muitas palavras de incentivo de mamães de meninos e tão logo a notícia se espalhou já me vieram muitas e muitas coisas para escrever e sobre as quais filosofar. Mas isso tudo vai ter que ficar para daqui alguns dias, pois estarei fora na próxima semana realizando um curso na minha área de trabalho.

Pedro (agora é oficial, hoho) vai comigo, Ísis também, porque se um filho vai o outro também vai, e porque não aguento uma semana inteira longe da minha pequena peralta, sendo que papai dos dois tirou férias para que eu pudesse fazer esse curso sem grandes traumas de minha parte, hehe. Eles dois curtem a cidade, eu e Pedro (tadinho) faremos cursos de orçamento e finanças públicas, ó que legal!

Aliás sobre isso também tenho muitas e muitas coisas pululando na minha mente, mas que terão que ficar para depois, se eu ainda estiver na fase alucinada da escrita na volta da viagem. Um pouco da minha visão sobre maternidade x carreira + o assunto da moda, "terceirização dos filhos", já deixei registrado em comentários nos blogs que sigo, mas tem muita coisa que fica aqui martelando...acho que preciso digerir melhor e trocar muitas idéias com vocês!

Beijos e até a volta!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

E o BB que me habita é...

... um menino! Já nominado por mim, porém sem o aval 100% do pai, então não posso divulgar que o nome será Pedro.

Mais um desafio dessa minha maternidade, eu, que venho de um mundo hiper feminino, tive uma menina, então me senti em casa, agora terei de lidar com todo esse universo paralelo e ao mesmo tempo ver cair sobre a minha testa vários outros cuspes de teorias de gênero pré concebidas...me aguardem!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Considerações sobre o sono - 2 anos depois

Eu e Ísis: 3 semanas após o parto

Olhando para essa foto, que foi tirada pelo pai num momento de exaustão extrema, eu fico com um arrepio na espinha, porque grávida novamente, sei que terei não apenas um, mas vários repetecos desse dia em poucos meses. Louca, eu? (pergunta inspirada na Mari - viciados em colo).

Uma das coisas que mais me atormentavam antes do nascimento era o sono, porque eu sou uma pessoa que dorme, ops, dormia muito. Para mim não bastam as 8 horas diárias, eu preciso de mais. Para piorar eu sou assim, meio devagar, sabe? Não sou viciada em atividade, minha velocidade é slow motion, e eu durmo com as galinhas desde sempre. Atividades noturnas não estão entre as minhas preferidas - eu sempre fui daquelas que cansava da balada lá pelas duas da madruga, mas ficava até mais tarde só para não chatear as amigas. Sou mole, mas sou parceira!

Eu não tinha ilusões de que bebês recém nascidos não choravam à noite. Quando eu tinha 12 anos nasceu minha irmã mais nova e eu me lembro muito bem dela chorando na madrugada, então eu não era totalmente desprovida de um senso de realidade de que bebês choram, acordam à noite para mamar e madrugam pela manhã. E mesmo assim eu me vi desesperada nos primeiros meses após o nascimento da Ísis. Mais desesperada ainda depois que li o tal livro da tal enganadora Encantadora.

Porque a minha filha não agia como aquela tabelinha de intervalos de 3 em 3 horas? Por que ela não dormia ao menos 6 horas ininterruptas, mesmo depois da mamada dos sonhos? Enfim, eu azucrinei todos - leia-se marido - em casa para tentarmos estabelecer rotinas, principalmente antes de dormir, virei a general dos ciclos, montei tabelas e nada, nada parecia mudar a realidade sonífera da minha recém maternidade.

Se vocês lerem alguns textos antigos do blog, podem se deparar com esse, onde, pasmem, eu digo para minha filha que ela dorme SUPER BEM. Mas deixa eu explicar!

Depois da febre da Encantadora, que me deixou de bom apenas a rotina noturna, silêncio e penumbra para dormir, eu dei um basta! Aceitei minha condição de mãe amamentante, aceitei que tinha uma filha que acordava mesmo, estava longe de ser um bebê-anjo (na verdade eu e o pai a enquadramos como bebê-velho, hoho), que ela precisava de colo, muito colo, muito aconchego e com essa aceitação da minha filha real, e não aquela dos livros, eu relaxei! E com esse relaxamento eu passei a visualizar que minha filha dormia até que bem, ora vejam, só! Bastava eu entender as necessidades dela, mantê-la no colo tempo integral, livre demanda e...voilá! Ela acordava 2 ou 3 vezes à noite, mas já fazia um ciclo longo de 6 horas e outros menores de 3 ou 2 horas; e durante o dia fazia suas 3 ou 4 sonequinhas de 40 minutos no máximo. Dormir mais durante o dia só se estivesse no colo!

E ela dormia fácil? Nããããooooo! Quando o cansaço batia e nada mais prestava, nem o peito, ela chorava, chorava, chorava de ficar vermelha. E eu embrulhava no estilo charutinho e saía pulando - sim, o movimento tinha que ser meio brusco - pela casa no meu, literalmente, estilo mamãe canguru, até ela pegar no sono. Na maioria das vezes resolvia, em outras não. Quando não resolvia o jeito era abraçar, sussurrar, segurar no colo e esperar ela cansar de chorar. Ela sempre resistiu muito ao sono, luta contra ele ainda hoje, porém as artimanhas agora são outras!

À noite fazíamos toda a rotina estruturada: mamada antes do banho, massagem antes ou depois do banho, mamada depois o banho. Penumbra e silêncio. Quantas vezes assisti à TV no mudo! O problema é que a Ísis sempre detestou sair do banho e tem verdadeiro horror por colocar a roupa. Chorava estrondorosamente desde os 40 dias sempre que tinha que trocar/colocar a roupa. Minhas vizinhas queridas, quando me viam passeando com ela, sempre faziam aquelas perguntas bestas: ela tem muita cólica? eu escuto ela chorar taaaanto à noite, pobrezinha...

Mas mesmo assim, eu achava que ela dormia bem! Acho que passado o susto, minhas expectativas deixaram de ser tão altas, eu parei de ler as Encantadoras da vida, mas ainda não conhecia os blogs. Hoje lendo um texto da Paloma eu fiquei me perguntando se a falta de sono não teria afetado minha percepção da realidade na época, e na verdade eu estava era muito lesada de cansaço e passei a delirar que minha filha dormia bem...não sei... só sei que foi assim.

Por isso eu sempre afirmo que a fase recém nascido é de longe a mais cansativa para mim, e a pior mesmo é a famosa exterogestação - os fatídicos primeiros 3 meses. Ali eu vivi meu calvário ao mesmo tempo em que vivia um amor enorme, que não cabia em mim. Algo que tira qualquer um da sua órbita, com certeza.

Mas cá estou eu, grávida novamente, rezando diariamente para que meu segundo filho seja uma exceção e durma, durma, durma; porém já calejada pela realidade: se não dormir, ok, é o NORMAL.

Eu me lembrei disso tudo porque a Carol vem escrevendo textos sobre seu cansaço, suas noites e dias de muito choro e eu me solidarizei. Com certeza, se tivesse um blog naquela época, escreveria as mesmas coisas em busca de uma solução, alguém que me ajudasse a passar por aquilo tudo de maneira mais amena.

Dia desses falando com o marido no jantar sobre isso, o cara ri na minha cara e diz que eu estava louca naquela época! Minha resposta foi fuzilá-lo com o olhar ao mesmo tempo em que bradava o famoso fácil falar! Ele deitava às 23:00h e acordava às 07:30h, uma noite inteira de sono! Quem levantava toda madrugada? Eu, oras! Então eu tinha todo o direito de testar as teorias mais absurdas que eu encontrasse, desde que não envolvessem deixar chorar, certo? Assunto encerrado! Humpf!

Nossa realidade atual é ela dormir na caminha nova dela, comigo ou o pai deitado ao lado, e depois de tomar o delicioso tétinho de iaiate. Tem noites (como ontem) que ela acorda 1 vez e nos chama para deitar com ela, tem noites (como antes de ontem) que ela dorme a noite inteira sem chamados. E assim vamos seguindo.

A soneca do dia se resume a uma única por volta das 14:00h e com duração de 1 hora a 1,5 horas no máximo.

Minha solidariedade eterna às mamães de pequenos bebês que estão na luta por voltar a dormir bem! Não se desesperem, vocês são normais, seus bebês são mais que normais e tudo melhora com o tempo! Posso afirmar que a Ísis só dormiu bem mesmo (e isso para mim não significa a noite inteira) a partir dos 15 meses (mas ainda acordava durante a maioria das noites, adormecendo em seguida) e com mais de 2 anos passou a dormir várias noites inteiras seguidas (leia-se das 21:00h ou 22:00h às 07:00h ), mas intercaladas por noites com chamados noturnos.

Isso não quer dizer que EU não acorde mais vezes do que ela para conferir se ela está bem coberta e não sente frio, ou se não está suando, com calor, ou se ela tosse/espirra eu levanto para ver se ela não está com febre...Tenho salvação?






sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A ilusão da escolha, mais uma reflexão

Este texto veio de uma troca de emails com uma grande amiga, grávida do primeiro filho, e que começa a ter contato com o assunto amamentação. Compartilhando um link de um artigo da Claudia Rodrigues, que também escreve o ótimo blog Buena Leche, acabamos "conversando" sobre o termo que a autora usou: machista, e que foi objeto de um comentário por parte de um homem ("dilmão") logo abaixo do texto. Eu, que adoro bater um papo assim gostoso com alguém, fiz um baita email, na impossbilidade que a distância criou de podermos - eu e ela - conversamos pessoalmente sobre isso.

O texto inspiração é este aqui, sugiro a leitura!

Talvez o erro da autora foi usar a palavra "machista" na argumentação, pois muitos entenderam a palavra, não como influência do mundo masculino sobre nós, mas sim com o significado de preconceito machista, o que de certa forma não deixa de estar certo também.

Quando começamos a ler mais sobre como era a vida antes, quando essa cultura "machista" ainda não havia nos inundado e os eventos de nascimento e lactação eram exclusivamente femininos (os homens nem eram admitidos no quarto onde suas mulheres estavam parindo), tudo era mais simples, mas fácil, menos traumático. Não se ouvia falar de mulheres que não conseguiam amamentar, ou de amamentação até os 6 meses...as crianças mamavam comumente desde que nasciam até 4 ou 5 cinco anos (uns menos, outros mais a depender do amadurecimento de cada criança).

Hoje em dia uma criança ao peito com mais de 2 anos é visto com estranhamento pela maioria de nós, quando na verdade deveria ser algo bem normal, afinal eles ainda estão na fase de serem amamentados, como seres mamíferos que somos. Mas quando vemos uma criança grande mamando, a maioria de nós vê alguém sugando um seio, e não um filho sendo amamentado...se o filho é menino então...já surgem as diversas teorias de dependência que sempre tem conotação sexual...um absurdo só.

Ainda nesta semana, conversando sobre o assunto com colegas de trabalho, todas foram claras em defender o aleitamento materno, porém, diante de um "causo" contado sobre uma mãe que ainda amamentava o filho de 4 anos, todas (menos eu) acharam um absurdo uma criança daquele tamanho ainda ao peito: é estranho, é esquisito, que coisa feia pelamordedeus, a criança já nem precisa mais do LM.

Não precisa? Então por quê damos o leite de vaca para ela? Ela precisa do leite da vaca, mas não do leite de sua própria mãe? Isso não deveria ser o estranho?

O que nos fez achar estranho tal comportamento? Será que realmente são nossas próprias convicções ou será que essa imagem nos é vendida cotidianamente há gerações, até considerarmos o normal estranho e o estranho normal?

Quando os médicos (na maioria homens, pois mulheres nem estudavam) passaram a estudar a obstetrícia, gravidez e nascimento passaram a ser patologias e a serem tratadas como tal pela sociedade, basta observarmos a quantidade de exames que fazemos hoje, quando grávidas, mesmo quando tudo está bem, somos constantemente monitoradas. Quando o bebê nasce é a mesma coisa...levamos mensalmente ao pediatra para "avaliação", mesmo quando nada se apresenta de errado.

Não estou dizendo que sou contra um bom pré natal e acompanhamento profilático no primeiro ano de vida, mas o excesso disso também se mostra prejudicial, principalmente quando nós, pais e mães, deixamos de ter conhecimento e controle sobre nosso próprio corpo, nossa própria fisiologia e temos que nos entregar a informações técnicas de todos os tipos, ao marketing das grandes indústrias e aos conceitos e preconceitos ditados por um mundo masculinizado.

O lado feminino dos eventos tipicamente femininos foram deixados de lado, surgiu o feminismo, a necessidade de ser "igual" ao homem...e lá estava a maternidade a atrapalhar...a amamentação, juntamente com a licença maternidade, é o grande vilão das mulheres no trabalho...então vamos desvincular a amamentação da mulher (diminuindo o tempo necessário aos cuidados do recém nascido), temos leites em lata, qualquer um pode dar.

No início não haviam muitos estudos sobre a composição e função do leite materno, as mulheres se sentiam livres com a mamadeira e passou-se a acreditar que o leite humano (olha que absurdo) não supria as necessidades dos bebês...mas o de vaca sim... Essa cultura não é feminina em essência. E não é lógica.

Claro que existem patologias ligadas ao parto e à amamentação, mas elas são raras e é para tratá-las que deveríamos ter acompanhamento médico. Hoje parece que todas as mulheres perderam a capacidade fisiológica de parir e de amamentar...difícil acreditar nisso, quando qualquer mamífero pari e amamenta suas crias sem problemas.

Atualmente há muitos grupos no mundo todo lutando por retomar as rédeas dessas funções, que são nossas, exclusivamente das mulheres, não podemos fugir disso; mas também há todo um outro grupo que diz que isso é retrógrado, é voltar no tempo e abdicar de conquistas importantes das mulheres no mercado de trabalho (por isso ela usa os termos mercantilismo/capitalismo no texto). O resultado são mulheres divididas, sobrecarregadas e culpadas, pois se anseiam pelo trabalho fora de casa, uma vez que dentro do lar elas são discriminadas, subjugadas e muitas vezes escravizadas, fora do lar elas sentem que não estão onde deveriam estar, outros cuidam dos filhos, os amamentam (na mamadeira) e estão com eles nas 10 horas diárias em que ficam no trabalho.

Complexo isso!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A ilusão da escolha


Nestes dias de segunda gravidez eu passei a divagar mais sobre algumas questões relacionadas com a maternidade e que já haviam ficado lá atrás na memória. Uma delas é o parto, claro, mas não é sobre ele que eu vou escrever hoje. O assunto é igualmente polêmico, gera discussões e mais discussões na via real e na virtual, mas não tenho o objetivo de gerar polêmica, apenas falar sobre um tema que é constantemente revisitado por mim, como mãe, como mulher, como mamífera.

Não me considero uma militante de nada, mas me sinto na obrigação de conversar com pessoas conhecidas sobre o assunto, pois penso, logo existo, e minha opinião sobre a amamentação, assim como minha visão sobre vários aspectos da vida, vem sofrendo alterações desde que passei a atender pela alcunha de mãe da Ísis.

A amamentação nunca foi um assunto que estivesse em pauta na minha vida, diferente do parto, que volta e meia permeava meus pensamentos. Creio mesmo que há mais de dez anos atrás eu fosse favorável ao aleitamento com fórmula.

Eu me formei em nutrição e me lembro muito bem que, apesar de havermos estudado a composição do leite materno, e comprovado já nos idos de 1998 que o mesmo era o melhor para o bebê, passamos muito mais tempo aprendendo a desenvolver "fórmulas" artificiais na disciplina de Nutrição Materno e Infantil (uma das minhas preferidas na época da faculdade): desde leite de arroz, de farinha, diluição correta do leite de vaca integral, fórmulas. Sobre a amamentação em si, aquela natural, ao seio da mãe, nada, ou quase nada. Um contrasenso, eu creio, mas em se tratando de políticas públicas sobre o assunto, é possível compreender os motivos para tal fato, apesar de hoje não concordar com eles.

Lembro-me que nessa disciplina fizemos uma espécie de debate sobre o LM x LA, que funcionou assim: uma equipe de futuras nutris defenderiam o aleitamento natural, outra equipe defenderia o aleitamento artificial, com fórmulas, e uma terceira, da qual eu fazia parte, julgaria qual das duas ganharia. Incrivelmente (até para mim, na época) a equipe do LA ganhou a disputa do debate, contra todas as informações trazidas pelas colegas do aleitamento materno. O LA tinha muito mais informações, muito mais marketing envolvido, muito mais recursos de convencimento, ao contrário do LM, o coitado, tão desprovido de certezas médicas, apostilas lindas, brindes diversos e marcas importantes que o respaldassem.

Apesar de achar estranho eu mesma haver me convencido de que o LA merecia ganhar a disputa, não dei bola para o assunto e só fui voltar a pensar nele dois anos mais tarde, quando uma colega fez um estágio na maternidade do Hospital Universitário e passou a me contar como era o preparo da "mãezinha" para obter sucesso no aleitamento. A minha reação foi achar tudo um horror! Como assim dores, choros de fome, mastite, fissuras, sangramentos? Melhor dar a mamadeira logo! E ainda havia o transtorno de "expor" os seios sempre que o bebê tivesse vontade (já se falava em livre demanda). Nã-não!

O tempo passou e fui titia antes de ser mãe, acompanhando as dores da minha irmã nos primeiros dias de amamentação. "Como ela aguenta? E esse bebê que não para de chorar? Coitada, dar o seio fissurado a cada hora! Por que não dá logo uma mamadeira, pelo menos até recuperar o seio?" Mas ela era mãe, eu era tia, e existe um abismo entre as expectativas e motivações de ambas. Eu pensava somente no bem estar dela, minha irmã querida, e ela pensava apenas no bem estar dele, seu filho bem amado. E isso sempre faz toda a diferença.

Quando engravidei pouco pesquisei sobre a amamentação, apenas que seria o melhor para o bebê e para a mãe, como nutricionista sabia que seria a composição ideal de alimentação para minha filha, que seria importante colocar o bebê para mamar logo após o nascimento. Ouvi falar de livre demanda, não teci maiores conclusões sobre o assunto e comprei várias mamadeiras.

E a Ísis nasceu, linda e sedenta por um seio, veio logo mamar e agarrou o bico, erroneamente, ficando nessa pega equivocada por horas na primeira noite. O resultado foram seios fissurados logo no primeiro dia, uma dor lancinante a cada tentativa de amamentar, a percepção tardia de que havia me informado pouco e o vislumbre de que poderia fracassar e ceder às lindas mamadeiras que compuseram o enxoval da minha filha.

Por sorte, minha irmã passou uma noite comigo, conversamos um pouco e ela me disse para persistir, que passaria e que amamentar havia sido maravilhoso para ela e para meu sobrinho, para ter fé e passar uma pomadinha para auxiliar na cicatrização.

Foi o que eu fiz, eu persisti por 15 dias naquelas sessões quase que horárias de tortura. A cada abocanhada da Ísis parecia que minhas entranhas reviravam de dor, eu tinha vontade de gritar, de desistir, mas...ao ver a carinha dela mamando, ao senti-la no meu peito, naqueles dez minutos mais que maravilhosos, eu ganhava forças para continuar.

O primeiro mês ainda foi mais complicado, pois passei um pouco mal com a apojadura, tinha dores quando a Ísis dormia e passava do horário de mamar, vazava leite por tudo, eu fiquei muito cansada porque ela mamava muito e quando não estava com fome tinha uma necessidade muito grande de sugar. Vivia pendurada no peito (e eu nem conhecia o sling!).

Depois disso, com as dores indo embora, com o controle da produção que evitava maiores desconfortos e vazamentos constantes, veio a sensação de estar "presa". Eu não podia me ausentar por mais de 1 hora e isso significou muito para mim, porque eu sempre prezei muito a minha liberdade de ir e vir. De uma hora para outra eu estava atada à minha pequena sugadora e entre o prazer e a agonia, a necessidade de estar ligada ao meu bebê, alimentando-o com o melhor alimento que ele poderia ter, e a necessidade de ser eu mesma, eu sofri um bocado.

Ainda havia tabus a serem quebrados: eu sempre tive muita vergonha de amamentar em público, na frente de estranhos. Uma bobagem, eu penso hoje, mas que na época fez uma diferença enorme porque eu mal saía de casa com a Ísis para evitar essa situação. Quanto arrependimento! Eu me lembro de entrar em pânico sempre que precisava sair de casa com ela só por antever o choro e a necessidade de dar de mamar!

Depois dos seis meses de exclusividade e com a introdução dos suquinhos e alimentos eu desencanei um pouco, eu conheci a blogosfera no finalzinho e após muito ler eu me vi como uma boba, que havia sido manipulada pela sociedade e por interesses contrários ao meu bem estar e da minha filha.

Eu muito filosofei comigo mesma sobre isso e eu me dei conta de que não havia apoio algum à amamentação no meu círculo de convivência, que todos achavam legal amamentar nos primeiros seis meses, mas poucos mantinham essa opinião quando a criança já estava mais velha.

E ainda houve o retorno ao trabalho, a ida da Ísis para escolinha em turno integral, enfim...nos desmamamos. Não sei se teria sido assim caso eu tivesse mais informação e mais coragem de bancar minhas decisões naquela época. Foi o que foi, eu não me culpo, mas se pudesse faria diferente.

Semana passada no blog da Lola eu li um texto sobre amamentação (incrível como uma mulher que não é mãe e não pretende ser consegue ser tão lúcida sobre esse assunto!), onde ela linkava um artigo que trazia o histórico da amamentação no Brasil. Lendo o artigo eu reforcei minhas idéias de que nós mulheres fomos e somos muitas vezes manipuladas por interesses frequentemente contrários aos nossos, interesses econômicos, religiosos, sexuais. E o pior é que temos a nítida ilusão de que escolhemos livremente, de que tomamos decisões conscientes e baseadas unicamente em nossas convicções. Ledo engano.

Difícil saber o que realmente queremos quando há uma legião muito bem equipada nos ditando regras de conduta a todo instante.

Agora terei a chance de viver a amamentação de maneira ainda mais plena, mais consciente, mais livre, mais leve e, espero, por mais tempo.

Deixo o link do artigo para leitura.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O medo do quartinho

A família decide pelo segundo filho e enquanto ele, o segundo, o BB sem nome e até o momento sem sexo, cresce tranquilo e feliz, a mãe dele e da primogênita, que atende pelo nome de Ísis, começa a ter problemas com desapego.

Eu, a mãe, fico horas na internet procurando idéias para o quartinho-menina da primogênita, já que o caçula vai herdar tudo dela. Escolho móveis, jogos de lençol, manta térmica, cobertores, edredons, travesseiros de gente grande (snif, snif), almofadas descoladas sobre a cama, cama auxiliar para o futuro namorado as futuras amiguinhas poderem vir dormir aqui em casa, fotografias, quadrinhos, cortinas e cabanas. Fica tudo lindo, maravilhoso e a pequena adora o novo quartinho, que agora tem 3 camas, duas delas totalmente acessíveis. E a terceira, lá no alto, acessível somente por uma escada.

Mas...depois da mudança decidimos que ela vai dormir conosco porque o cheiro da tinta tá demais no quarto dela, depois ela tem (mais uma vez) uma crise de bronquite e eu fico com dó de deixá-la láááá do outro lado do corredor, naquela cama enorme. E se eu não ouvir (hã?) ela me chamar à noite? Mais uns dias de cama compartilhada! Nunca compartilhamos tanto desde que ela nasceu.

Marido dá o ultimato hoje pela manhã: o quartinho dela tá pronto, tá lindo, ainda sem cortinas e cabana, é verdade, mas tá lindo, novinho, cheiroso, com lençóis 200 fios e tudo o mais. Mas eu fico com o coração na mão de colocá-la lá hoje à noite.

Por quê? Não tive nenhum problema em colocá-la no quartinho dela com 21 dias de vida!

Aí, na minha auto análise (prá quê pagar honorários se você tem o gene da psicologia, né?) eu percebo que estou apegada...

Dar adeus ao bercinho amado, ao colchão forrado de um lado com plásticos que recebeu uma queimadura logo na primeira semana de uso e perdeu totalmente sua função anti vazamento xixizístico e que por isso mesmo teve que ir ao sol escasso de Joinville tantas e tantas vezes;

Dar adeus aos mini lençóis de algodão e malha tão carinhosamente escolhidos para ela;

Dar adeus aos travesseirinhos e almofadas que a envolveram todas as noites e a protegeram da cama enorme;

Dar adeus aos protetores de berço, esses lindos com quem tive uma relação de amor e ódio (amor na fofurice, ódio na bronquite) e com quem a Ísis aprendeu a falar peixinho, tartaruga, baleia, cavalo marinho, caranguejo, mergulhadora, dando bons dias e distribuindo beijinhos a eles todos os dias pela manhã;

Dar adeus à poltrona de amamentação amada, idolatrada salve salve, companheira de madrugadas intermináveis e maravilhosas de amamentação e desejos de mais horas de sono...

Enfim, dar adeus a toda uma fase épica de nossas vidas, ainda que seja para recomeçarmos tudo novamente com o filhote mais novo e iniciarmos toda uma nova fase de gostosuras e travessuras com ela, a minha sempre pequena Ísis...dói!

Mas eu preciso dar adeus, guardar as boas lembranças do lado esquerdo do peito, respirar fundo e partir, para uma nova fase, um mundo novo, uma família nova, mesmo sendo a mesma!

Me abraça? :(

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Flor do Deserto


Imagem: google

Eu não faço crítica literária e nem de cinema, mas ontem assisti a um filme no Telecine Touch (bendita degustação!), Flor do Deserto, que começou despretencioso, meio paradão até e achei que fosse mais um desses filmes sobre a pobre menina linda que alcança o sucesso através de sua beleza ao ser "descoberta" e a partir de então ser uma estrela de cinema, de passarela, de palco. Mas eu estava enganada!

O filme foi baseado na vida da então top model somali Waris Dirie, que, seguindo a tradição de seu país, foi circuncidada aos 3 anos, fugiu de casa aos 13 anos, um dia antes de seu casamento com um sexagenário, atravessou o deserto, trabalhou na embaixada da Somália em Londres, foi descoberta por um fotógrafo na lanchonete onde trabalhava, se transformando numa top model de sucesso a partir de então. Até aí, sem muita novidade, histórias de superação existem - ainda bem - aos montes por aí e são sempre inspiradoras.

O que me emocionou no filme, na verdade me horrorizou, foram os momentos finais, onde ela conta sobre a circuncisão que sofreu, a dor que sentiu e a luta dela para que este tipo de tortura tenha fim para as mais de 140 milhões de bebês-meninas que sofrem/sofreram essa brutalidade pelo simples fato de serem mulheres.

A cena onde ela, pequena, é circuncidada por uma senhora de dar medo, no meio do deserto, com uma navalha, no seco, é de chorar, e eu chorei muito vendo aquilo, aquela tortura horrorosa com uma menina, praticamente um bebê, tão pequena e indefesa como a minha filha, que nem entendia o que estava acontecendo. A realidade da cena é chocante.

Você sabe o que é a circuncisão feminina? É você ser mutilada nos seus ógãos genitais: retiram o clitóris, pequenos lábios, grandes lábios e, não satisfeitos com tamanha atrocidade, costuram a vagina para que a mulher permaneça "pura" até o casamento. E neste dia lindo e maravilhoso, na noite de núpcias, o amoroso marido pega outra navalha e rasga novamente a vagina antes de penetrá-la...

Waris poderia ter ficado com seu sucesso e continuado sua vida longe dos problemas de seu país de origem, mas lutou e está lutando contra essa violência, inclusive dentro de sua própria família.

Vale a pena ver o filme e conhecer um pouco mais sobre a (não) condição feminina.

Criar nossos filhos para que respeitem o próximo, para que amem seus corpos e não considerem o sexo e a sexualidade como algo nocivo para as mulheres - já que para os homens nunca há esta conotação - é apenas um pouco do que podemos fazer.

PS: Estou bem, sem foto da barriga (segundinho, tadinho), iniciando o sexto mês, sem saber o sexo e o nome de quem me habita.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A alienada

Final de semana, festinha de aniversário de 1 aninho do filhote de uma amiga. Encontros, reencontros, a famosa roda dos papais falando sobre futebol, política, economia, mulher alheia, cerveja, pelada (futebolística ou não) e a famosa roda das mamães com os filhotes sob as asas falando de suas peripécias, coco, xixi, melecas e...escolinha.

No aniversário havia muitas crianças na faixa etária da Ísis e apenas eu e outra mãe que optamos por não colocar nossos respectivos rebentos numa escolinha/creche/berçário. Todas as 485965234 crianças entre 1,5 e 3 anos estavam na escolinha.

Eu gosto muito desses encontros, sério mesmo. Não perco uma oportunidade de observar e comparar (ainda que mentalmente) a genialidade da minha filha (cof, cof) com a genialidade alheia. E posso dizer? Morro de orgulho, há!

Daí que lá pelas tantas, todas as outras mães observando aquele serzinho acima da média (cof, cof) me largam a pergunta: "ela está em qual escolinha?"

Não, minhas caras, ela não está em escolinha nenhuma há exatamente 1 ano e 1 mês.

"Nãããooo? Ah, mas por quê? Ano que vem você vai matricular, né?"

NÃO.

"Mas escolinha é tão bom, as crianças aprendem a socializar (aham, tá bom que fedelhos dessa idade aprendem a socializar, me engana que eu gosto, eu penso, mas não digo), elas são estimuladas na sua psicomotricidade (você sabe o que é isso?), elas aprendem a dividir..."

Daí nessa frase do "elas aprendem a dividir" eu, que não sou santa, nem elevada moral e espiritualmente não me aguento e largo um "Fala sério, né? É só olhar essa rodinha de bebês e pequenos infantes que dá para notar que a escolinha não ensina ninguém a dividir." Olhares me fuzilando, saio estratégicamente pela esquerda arrastando meu barrigão...bexiga de grávida, sabe comé?

Eu passei praticamente toda a festinha justificando o por quê de não colocar a Ísis numa escolinha, fazendo-me de surda (não com muito sucesso) para frases dos tipos acima.

Já escrevi dois textos sobre o assunto: aqui e aqui. Eu não fico reprovando mães que colocam os filhos desde cedo nas creches, cada família tem uma dinâmica, uma necessidade e suas crenças. Se você acredita que seu filhote vai estar melhor numa escolinha, que assim seja! Ou se você não tem outra opção viável, que assim seja também. Ninguém é melhor ou pior por estar ou não numa escolinha. A Ísis esteve numa dessas por 9 terríveis meses em turno integral...

Mas nós (eu e marido) não acreditamos nisso e não tem discurso sobre psicomotricidade, pedagogia Waldorf/Montessori que me faça mudar de idéia. Até porque eu vejo a desenvoltura da Ísis e vejo a das outras crianças que vão para a escolinha e ela não está "atrasada" em relação à ninguém. Ela fala com desenvoltura própria para a idade, se locomove bem, pula, corre, sobe sobre móveis, salta obstáculos, canta musiquinhas com coreografias, pinta, recorta, molda, encaixa, desencaixa, "lê" livrinhos, etc...etc... e convive com outras crianças também , afinal ela não vive trancada dentro de casa: vai ao parquinho, à praça, brinca com os filhos dos vizinhos, dos colegas de trabalho...sociabilidade e psicomotricidade garantidas! Ainda que sem um projeto pedagógico!

Agora aprender a dividir na escolinha...ah, isso não! É da idade não querer dividir nada nessa fase, teoria comprovada neste aniversário onde crianças de 0 a 5 anos brincavam e disputavam brinquedos alucinadamente num festival de não, é minha; não, é meu, enquanto mães apaziguadoras, estivessem seus filhos na escolinha ou não, repetiam "tem que dividir com o amiguinho, agora é a vez dele, depois você brinca."

Minha idéia é: crianças pequenas ficam em casa, na segurança do seu lar, no conforto de suas caminhas, com suas comidinhas de casa, seus passeios ao sol, seus colos exclusivos (ao menos até nascer o segundo), suas estimulações naturais, seu convívio periódico com outras crianças.

Já tive a experiência da escolinha, não é para mim, não adianta tentarem me convencer do contrário, pois não há teoria da psicomotricidade e sociabilidade que resista a uma rodinha de bebês/crianças fazendo exatamente as mesmas coisas.




segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Os pets


Imagem: google

Sabe, eu não sou uma pessoa má. Eu tenho amor no meu coração, apesar de um certo ar mal humorado. Eu já pensei muito sobre esse assunto, já me martirizei por não ser como as outras pessoas, cheguei a ficar mal mesmo pensando que isso fosse algum sinal de sociopatia escondida...

Bichos de estimação...

Eu não morro de amores por eles seja cãozinho fofo, gatinho esperto, piriquito cantador, coelhinho pulante, tartaruga fedida, peixinhos nadadores, porquinhos da índia que fazem malabares, galinhos garnizé e toda uma safra de animaizinhos fofos que rondam por aí.

Eu não sou insensível, tão pouco. Acho fofinhos os filhotes, mas somente eles. Esses eu até pego no colo, arrisco um cuti cuti, cosa má fofa e pronto. Passada a fase bebezistica do animal, eu no máximo arrisco um "cachorro simpático". Ele lá e eu aqui. Não venha pular em mim, abanar o rabo e me lamber. Não me comovo, e até desgosto.

Como tenho filha pequena eu a ensino a dizer que o cãozinho-gatinho-periquito-coelhinho-tartaruga-peixinho-porquinho-galinho são  "ai, que bonitinho, né filha?" E ela repete com a mesma entonação de voz, cosa má fofa da mamãe.

Agora que moramos em casa a pergunta é "mas vocês não vão comprar um cãozinho-gatinho-periquito-coelhinho-tartaruga-peixinho-porquinho-galinho para a Ísis?" NÃO! Talvez daqui uns bons anos, quando ela própria for cuidar dos agregados provenientes dos pets aí, talvez, quem sabe, no entanto, quiçá ela ganhe  -ou compre - (afinal já vai estar trabalhando, imagino) um cãozinho-gatinho-periquito-coelhinho-tartaruga-peixinho-porquinho-galinho.

Pets em casa só sob o meu cadáver.

(Estarei eu cuspindo prá cima?).
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...